Garimpeiro, não! Conheça o detectorista

RIO – Todos os olhares são de completa curiosidade por onde passa o concentrado Adilson Gomes, com seu detector de metais, nas praias da Zona Sul ou Zona Oeste do Rio de Janeiro. O vendedor de mate se vira para observar a bola da altinha cai enquanto os jogadores tentam decifrar a atividade, a mulher que se bronzeia tira os óculos para enxergar. Mas o dono do olhar mais curioso é o próprio detectorista, que descobre algo no solo com ajuda do aparelho. Ele cava duas vezes e se estica para alcançar uma peça de metal enterrada a mais de meio metro na areia.
– Mais uma de 50 centavos. Pode parecer esquisito, mas a moeda de R$ 0,50 é a mais condutora de todas, até mais do que a de R$ 1 – explica Adilson, enquanto se admira com mais um achado e o guarda em um porta-trecos.
A mesma curiosidade que intriga quem cruza com o assistente social carioca de 38 anos equipado com detector de metais, pá, colete e fones de ouvido é o que o move a praticar o detectorismo. Adilson conta que encontrou na prática da detecção de metais uma maneira de se distrair. Ele chama a atividade de hobby, ou esporte, uma vez que não foi a “caça ao tesouro” que o atraiu. Ele vai atrás dos donos dos pertences que encontra e não vende os artigos valiosos. Segundo ele, isso é o que o difere de um garimpeiro. Ainda assim, de moeda em moeda, ele estima já ter somado cerca de R$ 5 mil.

De fato, quem espera enriquecer encontrando moedas, joias e outros “achados” nas praias pode se frustrar. A maioria dos itens que acionam o sinal do detector de metais é lixo: pregos, pedaços de arame, tampas e lacres de cerveja, ou mesmo uma latinha inteira. Encontrar estes materiais sem valor não desmotiva Adilson, mas o faz refletir sobre a quantidade de resíduos deixada na praia pelos cariocas.
– As pessoas, infelizmente, não têm ideia do quanto elas maltratam o meio ambiente. Elas não têm responsabilidade com o lixo que elas mesmas produzem – lamenta o detectorista. – Com a minha atividade eu posso ensinar a uma criança onde é o lugar do lixo, sem precisar dar aula de alguma coisa.
O detectorista entende sua função também como educadora, pois ele retira da praia todo o lixo que identifica. Além de que “praia não é lugar de lixo”, Adilson explica que retirar esses materiais do solo faz parte da “ética” do detectorismo: remover os resíduos evita que outros praticantes sejam iludidos por ele, e tampar o buraco previne acidentes. Foram bons modos que ele aprendeu a cultivar com outros detectoristas: só na comunidade “Detectorismo Brasil” no Facebook existem mais de três mil membros.
Trabalho em grupo
Os grupos de detectores trabalham em conjunto. Eles falam uns com os outros e dizem em qual ponto encontraram bons artigos ou onde restou apenas lixo. Há especialistas em caçar em praias, gramados ou até mesmo em sítios arqueológicos. Adilson está presente nestes grupos, mas tem outras técnicas para avaliar os locais de “caçada”.
– Como eu fui marinheiro, faço uso do meu conhecimento sobre mar para saber onde vai estar bom. Sei que quando bate o vento sudoeste, que é o que traz virada de tempo, vai dar pra encontrar coisas boas. Ou então olho a baixa da maré, o preia-mar. Ressaca, então, é igual a dia em que cai o pagamento: você sabe que vai encontrar alguma coisa – comemora ele, que costuma detectar às segundas e sextas.
Foi numa segunda qualquer que, enquanto detectava, Adilson recebeu um chamado desesperado e até um pouco inusitado: um jovem o procurou para que ele encontrasse sua aliança perdida, na altura do posto 5, em Copacabana. O atendente de uma das barracas avisou o homem que “um cara com detector de metais passa por ali toda segunda”:
– Antes de ele me pedir, eu já tinha achado. Quando ele descreveu o que estava escrito por dentro da aliança, eu a devolvi porque sabia que era dele.
Itens perigosos
Anéis estão entre os artigos mais comuns encontrados por ele. Já a lista de artigos incomuns é de causar estranheza no próprio detectorista: um ponteiro (ferramenta de pedreiro), um pedaço de arquibancada móvel de shows na praia, uma peixeira, um canivete importado – ele salienta que sempre os encontra com a ponta para cima. Menos perigosos, também já foram encontrados celulares, mochilas ou mesmo bolsas, com tudo dentro: escova de cabelo, chaves, óculos….
Estes e outros itens, dos mais banais aos mais inusitados, fazem parte da exposição que Adilson inaugura nesta quinta-feira, às 19h, no Galpão das Artes Urbanas, na Gávea. Sob o pseudônimo Elieser E. Borba, o detectorista batizou de “Marcas na Natureza” alguns arranjos que fez com os objetos com o objetivo de despertar consciência nos banhistas sobre o que é deixado nas areias. A exposição fica aberta ao público até o dia 19 de maio, de segunda à sexta, de 9h às 17h.
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